Hoje, 8 de agosto, faz três anos que o espanhol Dom Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, em Mato Grosso do Sul, nascido em 1928, "se encantou", retornando, sob a proteção de Maria Santíssima, ao aconchegante colo do Pai Eterno quando já contava 92 anos de vida.
Eu, que já era fervoroso admirador da vida e da obra de seu amigo e confrade Dom Hélder Câmara, conheci a trajetória ao mesmo tempo luminosa e espartana de Dom Pedro Casaldáliga (que, aliás, não gostava de ser chamado de "Dom"), sua pobreza franciscana e sua riqueza espiritual, através do amigo Dom Luiz Gonzaga Fechio, Bispo de Amparo, que me explicou o significado do anel de tucum (uma palmeira da Amazônia), preto, usado por Dom Pedro: era o compromisso do Bispo Emérito de São Félix do Araguaia com a pobreza e com as dores e necessidades de seu povo humilde, generoso e sofredor, pois, diferentemente do Papa Inocêncio III (1198-1216), que determinou que os anéis episcopais fossem confeccionados todos em ouro com uma pedra preciosa incrustada, Dom Pedro Casaldáliga usava o anel de tucum - sinal de aliança com a causa indígena e com as causas populares; quem carrega esse anel assume essas causas e suas consequências.
Dom Pedro Casaldáliga, cujo báculo era um remo dos pescadores do Araguaia e cuja mitra era um chapéu de palha, estilo sertanejo (ou seja, símbolos do poder transformados em ícones de serviço!), dedicou toda a sua vida aos ribeirinhos, aos quilombolas, aos povos indígenas, aos camponeses sem-terra e a todos os humilhados e ofendidos pelos donos apoucados do poder. Tutelado por dois companheiros agostinianos ou sob a vigilância amorosa e filial de jovens Xavante, Dom Pedro Casaldáliga viveu plenamente o Evangelho, sempre distante das pompas e dos títulos, preferindo, em vez dos ricos tapetes, pisar com seus pés descalços (ou, quando muito, calçando rústicas sandálias) a terra vermelha.
A partida de Dom Pedro Casaldáliga, em 2020, deixou uma enorme lacuna na luta em prol de justiça social e de direitos humanos. Seu corpo físico foi enterrado sob um pequizeiro, à margem do Rio Araguaia no cemitério dos karajás e dos peões. Seu humaníssimo legado seguirá iluminando os caminhos rumo à emancipação dos oprimidos deste nosso Brasil, um visível sinal de opção pelos mais pobres, no sentido de sua libertação integral.
Que seu exemplo de vida se multiplique! Que seu pensamento e seu ideal de vida frutifiquem nesse solo regado muitas vezes com lágrimas e com sangue. Afinal, um profeta, ao morrer, se transforma em semente que, no tempo oportuno, há de brotar no ventre da terra, gerando frutos.
Hoje e sempre, DOM PEDRO CASALDÁLIGA PRESENTE! Agora, o "profeta do Araguaia", o místico de pés descalços, se transmudou em luz universal!
Marcelo Henrique, poeta, escritor e jornalista
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